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16 de janeiro de 2017

[CRÍTICA] Dom Casmurro (Machado de Assis, 1899)


Falar sobre os grandes clássicos é, talvez, chover no molhado. Em outra oportunidade, falei sobre como gosto dos autores britânicos. É justo, todavia, que eu demonstre apreço também pelos bons autores brasileiros – e aqui está um deles, Machado de Assis, com uma de suas obras mais famosas: Dom Casmurro (Machado de Assis, 1899). Um livro de excelente nível, cativante e que ainda hoje suscita debates.

O jovem Bentinho, apaixonado por sua vizinha Capitu, vê seus sonhos de desposá-la frustrados por uma promessa feita por sua mãe – a de fazê-lo padre. Enquanto tenta resistir ao seminário, Bentinho vai cada vez mais se apaixonando por Capitu, ao passo que, também, se torna mais e mais desconfiado de sua amada.

Bentinho é certamente um dos melhores narradores da literatura. Já falei em outro post a respeito de narrativas em primeira pessoa – alguns livros possuem narradores péssimos (exemplos aqui, aqui e aqui). Nesta obra, porém, temos uma narrativa excepcional. O narrador se perde, às vezes, em divagações; se prende demais a fatos pequenos; toma posições questionáveis; e chega a conclusões bastante duvidosas. Tudo isso – veja que interessante – torna a narrativa de Bentinho extremamente crível: acreditamos, de fato, de que ele é um dos personagens e que está nos contando sua história, sob seu ponto de vista.

Os demais personagens possuem um papel relevante e são bem construídos: a ambígua Capitu, que sempre deixa Bentinho com uma pulga atrás da orelha; Dona Glória, a viúva mãe do protagonista; o superlativo José Dias, agregado da família; o Padre Cabral, vaidoso em seu título de protonotário; Escobar, o melhor amigo de Bentinho; dentre tantos outros. Marcantes e importantes para o desenvolvimento da trama, cada um possui pelo menos um momento de destaque. Uma excelente construção de personagens por parte do autor.

Por fim, a história, simples em essência, nos prende cada vez mais, a cada capítulo – e são muitos: mais de cem! A construção da trama, que decorre ao longo dos anos da adolescência e da juventude de Bentinho, nos torna presentes nos acontecimentos: nos sentimos dentro da casa de Matacavalos, assistindo ao falatório de José Dias ou à rabugice da Prima Justina.

Dom Casmurro é inegavelmente um dos grandes clássicos da literatura brasileira, e ainda tem muito a nos dizer: a simplicidade marcante de sua trama, a qualidade da narrativa, o bom desenvolvimento dos personagens. Cada página do livro, cada capítulo, é uma aula de como escrever bem. Machado de Assis é uma escola que deveria ser visitada sempre pelos novos escritores, que por vezes parecem se esquecer das características mais básicas que compõem o conjunto de uma boa escrita.


Nota: ✩✩✩✩✩

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