Falar
sobre os grandes clássicos é, talvez, chover no molhado. Em outra oportunidade, falei sobre como gosto dos autores britânicos. É justo,
todavia, que eu demonstre apreço também pelos bons autores brasileiros – e aqui
está um deles, Machado de Assis, com uma de suas obras mais famosas: Dom
Casmurro (Machado de Assis, 1899). Um livro de excelente nível, cativante e
que ainda hoje suscita debates.
O jovem
Bentinho, apaixonado por sua vizinha Capitu, vê seus sonhos de desposá-la frustrados
por uma promessa feita por sua mãe – a de fazê-lo padre. Enquanto tenta
resistir ao seminário, Bentinho vai cada vez mais se apaixonando por Capitu, ao
passo que, também, se torna mais e mais desconfiado de sua amada.
Bentinho
é certamente um dos melhores narradores da literatura. Já falei em outro post a respeito de narrativas em primeira pessoa – alguns livros possuem
narradores péssimos (exemplos aqui, aqui e aqui). Nesta
obra, porém, temos uma narrativa excepcional. O narrador se perde, às vezes, em
divagações; se prende demais a fatos pequenos; toma posições questionáveis; e
chega a conclusões bastante duvidosas. Tudo isso – veja que interessante –
torna a narrativa de Bentinho extremamente crível: acreditamos, de fato, de que
ele é um dos personagens e que está nos contando sua história, sob seu ponto de
vista.
Os demais
personagens possuem um papel relevante e são bem construídos: a ambígua Capitu,
que sempre deixa Bentinho com uma pulga atrás da orelha; Dona Glória, a viúva
mãe do protagonista; o superlativo José Dias, agregado da família; o
Padre Cabral, vaidoso em seu título de protonotário; Escobar, o melhor
amigo de Bentinho; dentre tantos outros. Marcantes e importantes para o
desenvolvimento da trama, cada um possui pelo menos um momento de destaque. Uma
excelente construção de personagens por parte do autor.
Por fim,
a história, simples em essência, nos prende cada vez mais, a cada capítulo – e são
muitos: mais de cem! A construção da trama, que decorre ao longo dos anos da
adolescência e da juventude de Bentinho, nos torna presentes nos
acontecimentos: nos sentimos dentro da casa de Matacavalos, assistindo ao
falatório de José Dias ou à rabugice da Prima Justina.
Dom
Casmurro é inegavelmente um
dos grandes clássicos da literatura brasileira, e ainda tem muito a nos dizer:
a simplicidade marcante de sua trama, a qualidade da narrativa, o bom
desenvolvimento dos personagens. Cada página do livro, cada capítulo, é uma
aula de como escrever bem. Machado de Assis é uma escola que deveria ser
visitada sempre pelos novos escritores, que por vezes parecem se esquecer das
características mais básicas que compõem o conjunto de uma boa escrita.
Nota: ✩✩✩✩✩
Classico com simplicidade marcante ! Perfeito.
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