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30 de junho de 2016

1984 (George Orwell, 1949)

Spoilers moderados

O que faz uma boa distopia é a sua capacidade de, utilizando-se de um mundo fictício e de situações grotescas, exageradas, inverossímeis, nos fazer pensar em nosso próprio mundo e na realidade em que vivemos. Quando a obra distópica é eficiente, nós logo reconhecemos às críticas que ela faz à sociedade. Se o brilhantismo dessa crítica consegue atravessar as décadas, se mantendo sempre atual, então essa distopia é ainda mais relevante. E é por ter essas características principais (proximidade com nosso mundo e uma crítica atemporal), além de não nos prometer um final feliz, mas apenas a realidade (fantasiada de ficção), é que eu considero 1984 (George Orwell, 1949) a melhor distopia de todos os tempos.

O que Orwell já havia iniciado em A Revolução dos Bichos (1945) toma sua conclusão nesta obra: de forma brilhante, o autor expõe a perversão do governo, que deixa de ser um servidor do povo governado para se tornar um escravizador, vigiando cada passo, cada movimento, cada pensamento de seus cidadãos, a fim de localizar qualquer fagulha de rebelião, ou meras divergências ideológicas, para logo em seguida extirpar tal perigo da sociedade, da forma mais cruel e desumana possível.


Em um Estado totalitário e controlador, onde as liberdades individuais não existem e onde os cidadãos são constantemente vigiados, Winston Smith, um funcionário de baixo escalão do governo, decide rebelar-se contra a ordem vigente. Aliando-se a Julia e auxiliado por O’Brien, funcionário de alto escalão, Winston almeja iniciar a revolução. Fatalmente, porém, ele descobrirá que aquilo em que ele acredita pode não ser verdade, e que o poder do Grande Irmão é muito maior do que ele poderia imaginar.

Nesta obra, somos apresentados a três personagens principais, que iniciam a história como aliados em busca de uma rebelião: Winston, um desolado funcionário público; Julia, militante do Partido, mas que tem em si também um desejo de rebeldia; e O’Brien, o funcionário de alto escalão. Logo, porém, o jogo vira e descobrimos que o aliado O’Brien é, na verdade, o grande antagonista, e os outros dois personagens, que se acreditavam senhores da situação, se veem à mercê do Partido e de seus métodos (pouco ortodoxos) de alinhamento intelectual. O Partido, esse grande ente que tudo domina, exerce a eterna busca daquilo que O’Brien chama de “o poder pelo poder, poder puro”.

Os paradoxos são claros: o Ministério da Paz, que se ocupa de fazer guerras; o Ministério da Verdade, que falsifica informações; o Ministério da Pujança, que lida com a escassez de alimentos. O próprio lema do Partido (“Guerra é Paz, Liberdade é Escravidão, Ignorância é Força) explicita o caráter contraditório do governo. Para além disso, a obra traz termos que se consagraram na cultura popular: novilíngua, duplipensar e, claro, o terrível Quarto 101, onde os maiores medos dos homens se tornam reais.


1984 é um livro cruel, impactante, desolador e, o mais importante, assustadoramente atual. Ele demonstra a que ponto o controle da sociedade pode chegar, e como todas as atitudes – boas ou más, submissas ou revoltosas – podem ser conduzidas meramente por desejo dos governantes, a fim de perpetuar o seu plano de poder. Não há esperança, não há redenção: o Grande Irmão sempre vence. E no fim, todos nós o amamos.

Nota: ✩✩✩✩✩

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