Na minha
crítica ao livro A Revolução dos Bichos (George Orwell, 1945), eu
disse que os bons clássicos tem a característica de se manter sempre atuais – e,
para tanto, precisam ter uma relevância que atravessa os anos. Pode-se dizer
que isso seja uma regra dos clássicos. Entretanto, toda regra possui sua
exceção, e O Peregrino (John Bunyan, 1678) está ai para nos lembrar
disso.
Cristão é
um homem que deseja ardentemente desfazer-se de um pesado fardo que carrega às
costas e alcançar a Cidade Celestial. Seguindo um caminho indicado por Evangelista,
no qual encontrará novos personagens e grandes desafios, Cristão inicia uma
jornada cujo fim representa, em suma, o início de uma nova vida.
Por que
motivos esse livro me decepcionou? Em primeiro lugar, pela monotonia de sua
narrativa. As situações são dolorosamente repetitivas, e os momentos que
poderiam empolgar são “freados” por grandes e longos colóquios sobre aspectos
de uma fé cristã muito específica – o autor, John Bunyan, era um pastor batista
que tinha grandes atritos com a Igreja Anglicana, que era a igreja oficial da
Inglaterra à época. Aquilo que poderia ser uma belíssima e encantadora alegoria
da vida cristã, em sua natureza mais bela e simples, descamba em um velado
ataque a ideais cristãos contrários àqueles defendidos por John Bunyan.
Embora os
personagens representem estereótipos (Hipocrisia, Boa-Vontade, o gigante
Desespero) e as situações contenham analogias com as quais já estamos
familiarizados (porta estreita, atalhos no caminho), ainda poderia haver um
espaço para um maior desenvolvimento desses personagens/situações. O que vemos,
porém, é um repetitivo ciclo de aparições-desaparições, que impedem que a
maioria dos personagens coadjuvantes seja memorável. A exceção a essa
constante, para mim, é a aparição do personagem Intérprete – de longe a parte
mais interessante da obra.
No fim
das contas, O Peregrino é um livro de grande sucesso mundial, que atravessou
os séculos, mas que não chegou até nós carregado de relevância – uma temática
promissora, porém dirigida de uma forma datada e muito específica, repleta de
sutis ataques a outros grupos cristãos e que falha também em empolgar com sua
narrativa, uma vez que essa é arrastada à exaustão. Diferente de outros
clássicos como O Príncipe (Nicolau Maquiavel, 1532) e A Arte da
Guerra (Sun Tzu, séc. IV a.C.), O Peregrino é um livro decepcionante
e que perdeu sua relevância ao longo do tempo.
Nota: ✩✩
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