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28 de junho de 2016

O Peregrino (John Bunyan, 1678)

Na minha crítica ao livro A Revolução dos Bichos (George Orwell, 1945), eu disse que os bons clássicos tem a característica de se manter sempre atuais – e, para tanto, precisam ter uma relevância que atravessa os anos. Pode-se dizer que isso seja uma regra dos clássicos. Entretanto, toda regra possui sua exceção, e O Peregrino (John Bunyan, 1678) está ai para nos lembrar disso.

Cristão é um homem que deseja ardentemente desfazer-se de um pesado fardo que carrega às costas e alcançar a Cidade Celestial. Seguindo um caminho indicado por Evangelista, no qual encontrará novos personagens e grandes desafios, Cristão inicia uma jornada cujo fim representa, em suma, o início de uma nova vida.

Por que motivos esse livro me decepcionou? Em primeiro lugar, pela monotonia de sua narrativa. As situações são dolorosamente repetitivas, e os momentos que poderiam empolgar são “freados” por grandes e longos colóquios sobre aspectos de uma fé cristã muito específica – o autor, John Bunyan, era um pastor batista que tinha grandes atritos com a Igreja Anglicana, que era a igreja oficial da Inglaterra à época. Aquilo que poderia ser uma belíssima e encantadora alegoria da vida cristã, em sua natureza mais bela e simples, descamba em um velado ataque a ideais cristãos contrários àqueles defendidos por John Bunyan.

Embora os personagens representem estereótipos (Hipocrisia, Boa-Vontade, o gigante Desespero) e as situações contenham analogias com as quais já estamos familiarizados (porta estreita, atalhos no caminho), ainda poderia haver um espaço para um maior desenvolvimento desses personagens/situações. O que vemos, porém, é um repetitivo ciclo de aparições-desaparições, que impedem que a maioria dos personagens coadjuvantes seja memorável. A exceção a essa constante, para mim, é a aparição do personagem Intérprete – de longe a parte mais interessante da obra.

No fim das contas, O Peregrino é um livro de grande sucesso mundial, que atravessou os séculos, mas que não chegou até nós carregado de relevância – uma temática promissora, porém dirigida de uma forma datada e muito específica, repleta de sutis ataques a outros grupos cristãos e que falha também em empolgar com sua narrativa, uma vez que essa é arrastada à exaustão. Diferente de outros clássicos como O Príncipe (Nicolau Maquiavel, 1532) e A Arte da Guerra (Sun Tzu, séc. IV a.C.), O Peregrino é um livro decepcionante e que perdeu sua relevância ao longo do tempo.


Nota: ✩✩

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