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3 de julho de 2016

O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde, 1890)

Falando sobre As Crônicas de Nárnia (C. S. Lewis, 1949-1954), mencionei a admiração que sinto pelos autores britânicos. Entre eles – claro – figura Oscar Wilde, escritor e dramaturgo famoso por seu estilo polêmico, ácido e deliberadamente crítico para com a sociedade e suas convenções. No seu único romance, O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde, 1890), ele leva seu estilo ao ápice, criando uma das mais belas e relevantes obras da literatura inglesa – e também mundial.

Dorian Gray é um jovem londrino que logo cai nas graças de Basil Hallward e de Lorde Henry, devido à sua beleza, jovialidade e sensualidade. Basil, pintor, eterniza a beleza de Dorian em um belíssimo quadro-retrato. O quadro, porém, desespera Dorian e torna-se sua obsessão – o jovem inveja a obra, que se manterá sempre com a mesma aparência, ao contrário dele próprio, que irá, com o tempo, definhar e perder sua beleza.


O livro é, sem dúvidas, aquele com a maior quantidade de boas frases por página que já li até hoje. Sensacionais diálogos, carregados de ironia e depravação, bem como conselhos no mínimo questionáveis e comentários que, em outras situações, beirariam o ofensivo, permeiam as páginas da obra de Wilde. O talento do autor, porém, não permite que o livro se torne desagradável; pelo contrário, é com maestria que ele nos diverte, colocando tais frases na boca de seus personagens, eximindo-se da responsabilidade de opinar sobre tantos assuntos polêmicos.

Falando em personagens: eles são charmosamente brilhantes. O pintor Basil Hallword, apaixonado pela beleza de Dorian, mas que não se permite avançar muito para além dos limites do bom senso e da moral; o jovem Dorian, fascinado com a vida e suas possibilidades, porém dotado de um narcisismo que o faz desejar trocar a própria alma pela beleza eterna; e tantos outros que, mesmo com participações menores, possuem grande importância no desenvolver da trama. Quem rouba a cena, contudo, é Lorde Henry: dele provém as melhores frases (carregadas de opiniões cínicas, blasfemas, misóginas, depravadas e politicamente incorretas) e a influência que mudaria os rumos da vida de Dorian.

O livro, como um todo, é uma grande crítica à sociedade inglesa da chamada Era Vitoriana (com sua fixação por classes sociais, famílias e hábitos sociais), mas acima disso, é uma crítica ao próprio ser humano: hedonista, apegado por demais à aparência física (principalmente a sua própria) e desconhecedor da dimensão que os próprios desejos podem assumir, e para onde suas preces podem levá-lo. O homem seria, por fim, obcecado por manter sua juventude eterna e por, também, livrar-se da responsabilidade de sua própria vida e de seus atos.

O Retrato de Dorian Gray é uma obra atemporal politicamente incorreta, debochada, crítica, cínica e carregada do charmoso deboche típico de Oscar Wilde. Subversivo, não se importa em tratar de temas como adultério e homossexualismo. É um daqueles que livros que manterá vivos na cultura popular seus personagens, bem como suas marcantes frases. Será sempre relevante e nos fará questionar, a todo o momento, o preço que aceitamos pagar por aquilo que queremos – e se, ao fim, será aquilo mesmo que intimamente queríamos.


Nota: ✩✩✩✩✩

2 comentários:

  1. Gostei da sua resenha. Tivemos opiniões bastante parecidas em relação a obra. Realmente os comentários de Henry roubam a cena, mas são tão indigestos em vários momentos que a leitura ficou pesada para mim.

    Sei que era o estilo e costume da época, mas ler ele falando coisas como "mulher serve apenas para enfeite", ou "ela não é boa, é bonita. E a beleza dela cega você" (mais ou menos) dava-me nos nervos.rs

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    1. kkkk, sim, a grande característica do personagem é sua palpável misoginia: ele tem suas ásperas opiniões sobre as mulheres, e Wilde, não se preocupando em ser politicamente correto, frisa bastante essa característica nele.

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