Um bom livro não precisa necessariamente ter
uma escrita rebuscada (como O Retrato de Dorian Gray) ou um drama
profundo e socialmente relevante (como O Sol é para Todos). O que torna
uma obra digna de ser classificada como “boa” (e, principalmente, memorável)
é sua capacidade de nos marcar com suas histórias, seus personagens e sua
narrativa. O menino no espelho (Fernando Sabino, 1982) é um livro que
possui tudo isso, e ainda tem a cativante característica de ser adoravelmente
simples.
O autor, Fernando, nos leva a conhecer histórias
de sua vida, contadas pelo homem adulto, mas com olhos de criança, com fortes
traços de fantasia e imaginação. Morando em Belo Horizonte/MG, ele, junto de seus
amigos e familiares, vive histórias típicas do universo de uma criança,
passando pelo fantástico, atravessando o mágico, sem, contudo, nunca perder o
gentil e simpático jeito de criança.
Assumo que este livro é uma das minhas
paixões literárias de infância: li-o várias vezes, quando criança, tendo
inclusive aprendido algumas palavras com ele (pandemônio, desventuras...).
Isso, sem dúvida, influencia na minha forma de avaliá-lo. Todavia, relendo-o
depois de adulto, continuo achando-o uma linda obra – por assim dizer, um bom
livro nacional.
O que torna este livro, a meu ver, tão bom?
Em primeiro lugar, sua belíssima narrativa em primeira pessoa (me faz lembrar o
já citado O Sol é para Todos, embora não seja tão brilhante quanto este)
– o autor é também o personagem principal das histórias contadas nas páginas belamente
ilustradas por Carlos Scliar. Em seguida, vem os cativantes personagens,
extremamente simples, mas ainda assim marcantes: o próprio Fernando, seus pais,
seus irmãos, a empregada Alzira, sua amiga Mariana, o papagaio Godofredo, a
galinha Fernanda... são muitos personagens, mas todos são relevantes e possuem
espaço para brilhar em diversos momentos.
Por fim, as histórias. Que lindas histórias!
O autor não se preocupa com a ordem cronológica nem – isso é mais que evidente –
com a veracidade dos fatos. A acontecimentos de sua infância se misturam a
imaginação da criança com a fantasia idealizada por um competente autor, como
Fernando Sabino. Histórias sobre garotos que voam, meninos que saem do espelho,
crianças que jogam futebol em times profissionais e poderes milagrosos se
misturam com histórias de galinhas, casas abandonadas e valentões de escola. O
que conta, aqui, é a simplicidade com que o texto é apresentado:
despretensioso, com uma linguagem simples, que cria uma envolvente narrativa, nos
fazendo devorar o livro do início ao fim.
O menino no espelho é
um livro simples, envolvente e marcante, que nos agracia com uma narrativa
direta, porém detalhada, recheada de personagens da mais amável simplicidade,
que rapidamente nos conquistam. É uma excelente leitura nacional, leve,
daquelas que podem ser concluídas em um único dia, e que recomendo vivamente a
todos. A obra é, sem dúvidas, a prova de que um bom livro pode ser
simples – basta que seja, de fato, bom.
Nota: ✩✩✩✩✩
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