Estamos
em um mundo distópico, assolado pela guerra, em que as esperanças de
reconstrução da civilização estão em jovens de destaque – os futuros líderes da
sociedade. Esses jovens, porém, precisam ser avaliados e selecionados de forma
cruel e desumana, submetidos a provações que os farão abandonar a adolescência e se tornar adultos. Dessa forma, nem todos irão
chegar vivos até o final: a morte é uma terrível possibilidade. Isso soa
familiar? Sim, é realmente familiar. Esta é, meus amados, mais uma
desnecessária e esquecível história adolescente contemporânea: O Teste
(Joelle Charbonneau, 2014).
Melancia Vale (Cia) é uma garota que
acaba de se formar em seus estudos regulares na Colônia de Cinco Lagos, em uma
Terra distópica destruída pela guerra. Agora, ela pode realizar seu sonho de
entrar para a Universidade. Para isso, porém, ela precisará enfrentar os
terríveis perigos que a esperam no misterioso processo de seleção conhecido
como O Teste.
Tenho
uma substancial quantidade de problemas em relação a esse livro, então vamos
abordá-los um de cada vez. Em primeiro lugar, a narrativa é pobre. Extremamente
pobre. Narrado em primeira pessoa (já falei sobre esse problema aqui), o livro mais parece um diário do
que qualquer outra coisa. Sequências inteiras são descritas de forma
superficial; diálogos, que de outra forma poderiam ser proveitosos, são
facilmente resolvidos com um “resumo” por parte da personagem principal; e o
texto é construído com frases curtas e vazias de sentimento, o que compromete
(e muito) o andamento da história.
Em
segundo lugar, a construção de mundo não é muito crível, além de ser
terrivelmente familiar. Não há originalidade aqui. Um mundo distópico,
destruído pela guerra, onde adolescentes são submetidos a provas pesadas e que
colocam em risco suas vidas, em procedimentos moralmente questionáveis... isso
não nos lembra nada? Jogos Vorazes, Divergente... distopias adolescentes já estão sendo exploradas à exaustão, e esta
é apenas mais uma – pouco original – delas. Além disso, o que é a tal guerra
que aconteceu? O que são os Sete Estágios? O que é a Comunidade Unida?
Em
seguida, temos os personagens. A principal, Cia, é uma adolescente
inverossímil. Ela, mesmo sendo muito nova, sabe resolver todos os problemas, é extremamente
perspicaz e praticamente nunca cai em armadilha alguma. Tomas, seu par
romântico, é clichê à exaustão. Aliás, o desenvolvimento do romance entre os
dois é fraco e extremamente batido – novamente, nada de novo aqui. Quanto aos
outros – Malachi, Will, Ryme – eles são fracamente desenvolvidos e não causam
empatia. As mortes que acontecem no decorrer da trama não nos fazem sofrer, uma
vez que não tivemos tempo – nem texto – suficiente para nos importarmos com os
personagens que morrem.
O Teste é uma obra que possui sim algum valor de entretenimento. O livro possui momentos de aventura e
que até empolgam. Todavia, o desenvolvimento possui graves problemas de ritmo,
a escassez de diálogos deixa a trama fria e os personagens são mal
desenvolvidos – sem se falar no final extremamente anticlimático. Junte-se a
isso o fato de que o enredo é claramente copiado de outras distopias
adolescentes contemporâneas, e nós temos uma história fraca, irrelevante,
esquecível e que é apenas um gancho para a venda de outros dois volumes de uma
desnecessária trilogia.
Nota:
✩✩
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