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29 de novembro de 2016

[CRÍTICA] O Exorcista (William Peter Blatty, 1971)

 (spoilers moderados)
  

A batalha do bem contra o mal não é um tema novo na literatura. Pelo contrário: talvez seja um dos mais saturados. Todavia, alguns autores conseguem captar a essência dessa premissa tão simples, e a trabalham de tal forma, que nos fazem repensá-la totalmente. Aqui, temos um grande clássico do terror: O Exorcista (William Peter Blatty, 1973), um livro que coloca bem e mal frente a frente, expondo medo, fraquezas, testando a fé, testando a firmeza de caráter, e nos fazendo conhecer uma das maiores obras literárias do século XX.

Chris McNeil é uma atriz divorciada que leva uma confortável vida em Georgetown. Quando, porém, sua filha Regan começa a exibir um estranho comportamento, ela passa a viver um suplício tentando descobrir a causa de tal distúrbio. Isso, inevitavelmente, irá liga-la a um padre em crise, a estranhos acontecimentos e a um reencontro com uma fé que ela julgava não possuir.


A obra de Blatty é um livro fantástico que funciona muito bem em dois gêneros de literatura: obviamente, no gênero de terror (no qual ele é, provavelmente, o melhor livro que eu já li), mas também no gênero de mistério/investigativo. O autor consegue, com extrema competência e talento, caminhar pelos dois estilos: ao mesmo tempo em que fornece uma aterrorizante narrativa, nos descrevendo em detalhes os comportamentos demoníacos de Regan, ele também nos mantém envolvidos com o constante caminhar de situações misteriosas envolvendo segredos, omissões e crimes cometidos.

Os personagens são relevantes e extremamente bem desenvolvidos. Mesmo os personagens secundários, como Karl, Joe e Burke, tem seus momentos de brilho e possuem camadas a serem reveladas. Porém, o destaque se dá para os 4 personagens principais: Chris, a atriz ateia que se vê, em um ato de desespero, obrigada a solicitar um ritual de exorcismo para sua filha; Kinderman, um detetive de polícia que tenta investigar um assassinato, mas acaba descobrindo o lado negro das forças espirituais; o Padre Karras – para mim, o personagem principal – que está em uma profunda crise de fé; e, claro, o demônio, que possui o corpo da pequena Regan. Este é, com méritos, um dos mais cruéis antagonistas da literatura mundial.

A construção de cenário é primorosa e nos brinda com lugares que rapidamente se tornaram parte da cultura pop de terror: a trágica escadaria que leva à rua M (lugar de morte, mas também de redenção), o sombrio quarto de Regan, gélido, fétido, com um clima pesado e, em especial, a cama da garota, onde ela fica a maior parte do tempo amarrada. A riqueza dos detalhes nos faz imaginar claramente a casa de Chris, com todos os seus aposentos, e caminhamos junto com os personagens pelas ruas e locais descritos pelo autor.

Por fim, a narrativa é primorosa. O medo e a angústia vão crescendo a cada página; por mais que diversas alternativas de tratamento psiquiátrico sejam propostas, nós sabemos, desde o começo, que nada irá funcionar. Ver os personagens se deteriorando, portanto, é uma tarefa ainda mais sôfrega. O demônio põe todos os personagens à prova, e expõe seus medos e segredos mais ocultos; por meio de sua ação, os personagens nos são expostos, nus, sem qualquer disfarce. Sem perceber, nos colocamos do lado daqueles que sofrem, e compartilhamos de seu sofrimento. Enfim, devo admitir: o desfecho do livro me fez chorar, por sua beleza e por representar uma redenção pela qual eu torcia desde o início.

O Exorcista é um livro excepcional, um clássico da literatura mundial, que funciona perfeitamente como livro de terror e como narrativa de mistério. Contando com personagens bem construídos e com um antagonista cruel e poderoso, a obra nos lança em um turbilhão de emoções, medos e sofrimento, nos fazendo adentrar na história e observar os acontecimentos com nossos próprios olhos. Sem dúvida, é um grande marco literário, que marcou época e que influência autores do gênero até hoje.


Nota: ✩✩✩✩✩

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