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21 de outubro de 2016

[CRÍTICA] O Espadachim de Carvão (Affonso Solano, 2013)


Sempre acredito no potencial dos escritores brasileiros. Às vezes, a arte nacional é muito polarizada: cenário musical dominado por funk e sertanejo; cinema dominado por comédias de baixa qualidade; literatura dominada por romances adolescentes e livros de youtubers. Nesse cenário, é extremamente satisfatório descobrir obras como O Espadachim de Carvão (Affonso Solano, 2013): uma original e criativa história de fantasia, envolvendo elementos de artes marciais, terras fantásticas e aventura por lugares desconhecidos.

Adapak é um jovem de origem divina que possui grandes talentos de espadachim, mas que agora luta por sua vida, escapando de inimigos desconhecidos. Em sua jornada para salvar o próprio pescoço, ele acaba conhecendo o mundo dos mortais e descobre grandes verdades sobre o seu obscuro passado.

Os personagens e a grande variedade de espécies surpreendem. Claro, é necessária bastante atenção por parte do leitor para não se perder em meio a tantos nomes como mellat, ushariani e ïnnarianos. Todavia, para os que conseguem acompanhar bem o ritmo da aparição dos personagens, o universo criado se torna bastante rico e promissor. Destaque, claro, para o personagem principal, Adapak, que possui múltiplas camadas, sendo, ao mesmo tempo, um jovem ingênuo e um notável espadachim. Outros, como Barutir, a capitã Sirara, a tripulação do navio, etc, são bem desenvolvidos e merecem atenção por parte do leitor. Senti falta apenas de um desenvolvimento maior para o personagem Telalec (em minha opinião, o mais promissor de toda a obra). A sua resolução me pareceu apressada e, talvez, um pouco preguiçosa.

O ritmo da narrativa é bom e prende atenção do leitor. As sequências são desenvolvidas de forma dinâmica, e não me recordo de ter ficado entediado em nenhuma parte. A história é pontuada por flashbacks que nos explicam as origens de Adapak, e isso é feito de maneira competente – embora eu considere a utilização desse recurso extremamente linear (tempo presente, flashback, tempo presente, flashback...). Em alguns momentos, porém, a exposição não é feita com o devido cuidado. Algumas sequências são expositivas demais – um personagem explicando tudo de forma mastigada para outro – enquanto outras não são críveis – o que dizer de um sábio que explica a origem do mundo para uma criança de 4 anos (ciclos) de idade, dentro de uma fantasmagórica e escura caverna?


O livro possui, de fato, alguns problemas de originalidade. Por exemplo: as espadas que possuem em seu interior relíquias trigêmeas, pertencentes a três irmãs, que lembram as Relíquias da Morte de Harry Potter; a relação que existe entre as espadas de Adapak e Telalec, que lembra também a relação entre as varinhas de Harry Potter e Lord Voldemort; os arcos que lembram o aparelho que faz com que o Neo, do filme Matrix, aprenda kung-fu e tantas outras coisas. No geral, porém, o livro possui bastante originalidade e ousadia na criação de seu universo. O final – sem usar spoilers aqui – consegue também surpreender, embora o twist não seja de todo inesperado.

O Espadachim de Carvão é uma grata surpresa literária nacional. Com bons personagens, universo bem construído e trama envolvente, o livro é sem dúvidas uma forte recomendação da literatura de fantasia nacional. Embora derrape um pouco na originalidade e no desenvolvimento de alguns personagens, a obra possui qualidade e me faz acreditar mais ainda no potencial dos escritores nacionais em criar literatura de gênero de alto nível.


Nota: ✩✩✩✩

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