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18 de outubro de 2016

[CRÍTICA] Manuscrito Encontrado em Accra (Paulo Coelho, 2012)


Paulo Coelho sendo Paulo Coelho. O autor, imortal da Academia Brasileira de Letras, é famoso por escrever muito sem nada dizer. O seu já conhecido corolário de clichês, obviedades e frases superficiais encontra lugar mais uma vez neste Manuscrito Encontrado em Accra (Paulo Coelho, 2012), que nos faz novamente questionar: é realmente necessário, nos dias atuais, ser medíocre, para ser bem-sucedido?
No ano de 1099, Jerusalém está às vésperas do ataque dos cruzados. Enquanto a cidade se preparava para a iminente invasão, um sábio, conhecido como Copta, convoca todos os habitantes da cidade para uma reunião. Na conversa que se seguiu, os diversos personagens levantaram questões que foram respondidas pelo sábio. Aquilo que se anotou de tal reunião se transformou em um manuscrito, que veio a cair (supostamente) nas mãos de Paulo Coelho.

Por onde começar aqui? Todos os elementos característicos do autor estão presentes: o velho sábio, a sabedoria oriental, a religiosidade água com açúcar que “costura” os pontos menos polêmicos das crenças mais conhecidas e, claro, a extrema superficialidade dos ensinamentos ali propostos. Sério. As palavras do sábio Copta tem a profundidade de um pires. A absurda obviedade daquilo que é falado nos faz questionar se aqueles habitantes de Jerusalém já não sabiam de tudo aquilo que ele falou.
A propósito: não consigo acreditar que tal manuscrito existe, e que o texto é uma transcrição realizada pelo autor. O texto é anacrônico: não é razoável supor que os temas tratados no livro tenham sido comuns no século XI, numa sociedade totalmente diferente da nossa. Os moradores daquela Jerusalém se parecem com indivíduos de uma sociedade ocidental qualquer do século XXI, e a obra parece mais uma daquelas metáforas que retratam, em sociedades estranhas ou eventos diversos, os nossos próprios anseios. Isso já foi feito com maestria em obras como O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupery, 1943). Aqui, claro, faltou talento para tornar a coisa crível.
Para “coroar” a obra, ainda temos a palavra dos líderes das três religiões presentes em Jerusalém (um rabino, um sacerdote e um imã). O que eles falam? Claro, mais e mais obviedades e ensinamentos sem peso algum. Tudo no livro é extremamente vazio. Certamente, dadas as características atuais do público leitor, é isso que faz sucesso e coloca um livro na lista dos mais vendidos. Mas sejamos honestos: isso é realmente literatura de qualidade?
Manuscrito Encontrado em Accra é um livro superficial, genérico e inverossímil. Por mais que as ditas “lições” do sábio Copta sejam de alguma serventia, são pouco originais e não chegam a empolgar. O livro aparenta ter sido escrito sem esmero, obedecendo a uma velha fórmula já consagrada e que resulta em grande vendagem de exemplares. Assim sendo, a obra pouco acrescenta à literatura nacional. Alguém, por favor, me explique: por que deram uma cadeira na Academia Brasileira de Letras a Paulo Coelho?
Nota: ✩✩

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