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5 de setembro de 2016

[CRÍTICA] Laranja Mecânica (Anthony Burgess,1962)

Quando se fala das grandes distopias, vem à mente obras como 1984 (George Orwell, 1949), Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932) e Fahrenheit 451 (Ray Bradbury, 1953). O objeto desta crítica, Laranja Mecânica (Anthony Burgess, 1962) não fica de fora dessa lista, sendo uma das distopias mais importantes do século XX e que ainda hoje suscita grandes debates – tendo sido imortalizada nas telas do cinema pelo brilhante filme de Stanley Kubrick, de 1971.

Alex é um adolescente delinquente de uma Londres distópica que passa os seus dias cometendo pequenos crimes junto com sua gangue – algo a que eles se referem como “ultraviolência”. Após ser preso, contudo, Alex é submetido ao experimental Tratamento Ludovico para ser “curado” de sua violenta obsessão. É nesse momento, porém, que começa o seu suplício.

A leitura do livro, propositalmente, é desafiadora: o narrador (o próprio Alex) utiliza-se de seu próprio dialeto (chamado de nadsat), que consta de inúmeras gírias, neologismos e repetições, e que é, a princípio, confusa. Esse é o propósito do autor: mergulhar-nos na estranheza de seu mundo e da natureza de Alex. Com o tempo, a narrativa se torna mais familiar e vamos nos habituando à forma de falar do narrador – que, aliás, é parcial e não necessariamente confiável.

O autor não se furta em chocar o leitor; tudo está presente neste livro: espancamentos, sexo com garotas alcoolizadas, estupros, assaltos, homicídios e qualquer tipo de violência gratuita que se possa imaginar. A obra, naturalmente, causou muita polêmica logo de início por esses e outros aspectos. Todavia, a ultraviolência e os elementos perturbadores não são o aspecto principal do livro; antes, são elementos que servem à belíssima trama retratada nas páginas da obra de Burgess.

Os personagens são marcantes: Alex, o Nosso Humilde Narrador, é um jovem delinquente repleto de camadas e que com frequência nos surpreende com suas deliberações a respeito da vida e de seus atos. Ele inicia o livro como um vilão, na segunda parte se torna uma vítima e, por fim, se converte numa espécie de herói sem, contudo, mudar seu próprio jeito de ser. Além dele, temos os drugues de Alex; Deltoid, o assistente social; o Dr. Brodsky; o Ministro do Interior; o escritor F. Alexander, que redige o original Laranja Mecânica que aparece durante a história; entre outros, cada um com seu espaço e com um papel relevante.

Por fim, resta a grande discussão da obra: a natureza violenta de homem e as sutilezas da liberdade de escolha. É válido um Estado promover a segurança de sua população, privando-a de sua liberdade, transformando os indivíduos em zumbis sem capacidade de decisão? É permitido a um governo tentar mudar a mente dos seus cidadãos, a fim de promover o “bem comum”? Qual é a grande maldade, afinal: o ato individual de violência ou o cerceamento total da liberdade da população?

Laranja Mecânica é um grande clássico da literatura mundial que atravessa a barreira do tempo e se apresenta extremamente atual para qualquer um que o leia. Por trás de uma carregada narrativa e de elementos chocantes, encontra-se uma fantástica história sobre as nuances da natureza humana e dos fundamentos da liberdade de escolha. De sua leitura, depreendem grandes questionamentos que ainda hoje pairam sobre a sociedade, tornando a obra uma das mais importantes de todos os tempos.


Nota: ✩✩✩✩✩

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