Teste Teste Teste Teste

29 de agosto de 2016

[CRÍTICA] O Médico e o Monstro (Robert Louis Stevenson, 1886)

Spoilers moderados

A literatura de terror possui grandes expoentes famosos – vide o relativamente recente Stephen King, extremamente bem-sucedido. Muitos livros de terror e ficção científica marcam época e se tornam ícones de toda uma geração literária. Alguns poucos, porém, ultrapassam essa barreira, saindo inclusive dos limites das páginas, passando a habitar os mais variados debates sociais. Ao lado de Frankenstein ou o Moderno Prometeu (Mary Shelley, 1818) e Drácula (Bram Stoker, 1897), O Médico e o Monstro (Robert Louis Stevenson, 1886) é uma das mais importantes obras de terror de todos os tempos.

Na soturna Londres da segunda metade do século XIX, o advogado Utterson decide investigar as relações de seu cliente, o respeitável Dr. Jekyll, com um estranho indivíduo que atende pelo nome de Sr. Hyde, envolvido em uma série de situações estranhas e por vezes violentas. No decorrer da trama, porém, Utterson acaba descobrindo mais do que queria e se vê às voltas com um terrível caso médico.


Posso iniciar os comentários a respeito dessa excelente obra falando sobre sua influência na cultura popular. O argumento do “outro eu” que assume todas as maldades (que nada mais são do que o íntimo desejo) do “indivíduo principal”, desenvolvido por Stevenson, influenciou várias outras obras – desde o seu contemporâneo O Retrato de Dorian Gray (Oscar Wilde, 1890), onde Dorian Gray possui um retrato que “sofre” as degenerescências em seu lugar, até o mais recente filme Clube da Luta, onde (alerta de spoiler!) o narrador cria o alter ego Tyler Durden, que é o reflexo de tudo o que ele, em seu íntimo, desejava ser.

A narrativa é rica e bem detalhada: somos imersos no ambiente onde a trama se desenvolve – uma descrição sombria da capital inglesa no fim da Era Vitoriana. Porém, mais do que uma simples descrição dos locais, temos uma ambientação que rompe as barreiras físicas, pois a cidade parece ter uma fantasmagórica aura espiritual que corrobora os temores e dúvidas de seu personagem principal, enquanto os fatos se desenrolam e aprofundam ainda mais o mistério.

De fato, o livro e sua trama já são bem conhecidos do público em geral, de modo que seu mistério central, em geral, já está elucidado para todos. As figuras do socialmente respeitável e bem sucedido Dr. Jekyll e de seu “outro eu” Sr. Hyde, repugnante em aparência e em atitude, já nos são familiares. O que torna a obra relevante, portanto, são os inúmeros debates que ainda hoje são suscitados por suas páginas. A ideia do monstro que vive dentro de cada um de nós, podendo se despertar a qualquer instante, nos levando a abandonar as convenções sociais, é algo que nos assusta – e muito.

O médico e o monstro é uma relevante história de terror que ultrapassa as barreiras do gênero e influencia, ainda hoje, a cultura popular. É uma narrativa envolvente que nos leva a refletir a respeito da profunda e dúbia natureza humana e nos coloca de frente com nossos próprios “monstros interiores”. Decorridos mais de cem anos, é uma história relevante e que ainda suscita questões e debates e – honestamente – levanta mais perguntas do que responde.


Nota: ✩✩✩✩✩

Nenhum comentário:

Postar um comentário