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15 de setembro de 2016

[CRÍTICA] O Guia do Mochileiro das Galáxias (Douglas Adams, 1979)

Quando assisti ao filme The Rock Horror Picture Show (1975) pela primeira vez, fiquei fascinado. Foi uma agradável surpresa, embora pelos motivos avessos: o filme é bizarro, sem sentido, satírico, debochado e propositalmente estranho. Tudo isso, porém, em conjunto, faz desse filme o meu musical preferido. E, certamente, se eu fosse citar algum exemplar do universo literário que se assemelhe a tal filme (incrível, porém bizarro), eu citaria O Guia do Mochileiro das Galáxias (Douglas Adams, 1979).

Arthur Dent é um terráqueo que está às voltas com o perigo de demolição de sua casa. Seu amigo Ford Prefect (um alienígena disfarçado de humano), porém, logo lhe mostra que a sua casa é um problema irrelevante, uma vez que a própria Terra será destruída. Com o desaparecimento de seu planeta natal, Arthur parte junto de seu amigo para uma incrível (e estranha) viagem espacial.


Não é uma tarefa fácil ilustrar a estranheza desse livro: muitos trechos de descrição científica de equipamentos tecnológicos ultra-avançados (sim, esta é uma ficção científica) parecem propositalmente incompreensíveis. A narração é pontualmente interrompida por cômicos flashbacks, verbetes do famigerado Guia do Mochileiro das Galáxias (um livro concebido para auxílio dos viajantes interestelares) e tantas outras “dispersões”, que testam divertidamente a capacidade do leitor em manter-se atento ao foco da trama principal.

Sim, este é um livro extremamente divertido. A narrativa é recheada de sarcasmo, e debocha a todo o momento de instituições humanas, criando robôs sentimentais, portas que se assemelham àqueles vendedores condescendentes de loja (que para tudo sorriem), alienígenas apaixonados por burocracia, policiais intergalácticos truculentos e um colossalmente imbecil Governo Galáctico (não dá pra esquecer, também, pitadas de humor direcionadas às crenças religiosas humanas). O Universo retratado nada mais é do que uma extensão comportamental da Terra recém-destruída.

Os personagens centrais são icônicos. Os já citados Ford Prefect e Arthur Dent, além de Trillian e do governante estereotipado Zaphod Beeblebrox formam o quarteto que é acompanhado de perto pelo depressivo robô Marvin.  Todos eles possuem sua função, são bem retratados e se tornam queridos pelo leitor – embora, claro, sejam tão bizarros quanto todo o resto da obra.

As inexplicáveis conveniências e coincidências probabilísticas são divertidas e de fácil aceitação por parte do leitor, por serem escrachadamente inverossímeis. Todavia, a obra tem seus pequenos defeitos. A constante interrupção do foco narrativo chega à beira da irritação em alguns momentos, por que queremos saber mais da trama, mas ela não avança satisfatoriamente. Falta, de fato, um pouco de desenvolvimento narrativo, apesar de eu compreender que a complexidade da história foi sacrificada em prol do conjunto bizarro da obra.

O Guia do Mochileiro das Galáxias é uma obra única, que se tornou parte da cultura pop devido aos seus personagens marcantes e à sua ácida e sarcástica narrativa. Mesmo se perdendo às vezes em seu foco dramático e nos deixando a deriva no decorrer da trama, o livro se mostra como o incrível resultado de uma concepção de Universo criativa e inteligente do autor, nos levando a reconhecer, naquilo que está fora de nosso planeta, os traços terráqueos mais marcantes.


Nota: ✩✩✩✩

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