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16 de agosto de 2016

[CRÍTICA] Éramos Seis (Maria José Dupré, 1943)

Sempre achei que existe uma beleza indescritível no simples, no cotidiano, no ordinário. É uma tarefa complexa fazer o que é normal aos nossos olhos parecer marcante; todavia, quando tal trabalho é bem feito, cria-se uma obra que é cativante por ser próxima de nossa realidade. Vivenciar em um livro o dia-a-dia, tão comum a todos nós, é algo que nos aproxima da história e de seus personagens. E é exatamente isso que vemos aqui em Éramos Seis (Maria José Dupré, 1943).

Lola é uma pacata dona de causa paulista, casada com Júlio e mãe de quatro filhos. Encontrando-se só, ao fim de sua vida, ela nos narra a história de sua família, desde o começo, quando era formada por seis membros, passando por todos os acontecimentos que tiraram dela aqueles que ela mais amava.


A história de Éramos Seis é comum e sem grandes reviravoltas: trata-se aqui de um drama familiar, abordando a história de uma família pobre de São Paulo, formada por seis pessoas (Lola, a mãe e narradora, o pai, Júlio, e os quatro filhos, Carlos, Alfredo, Isabel e Julinho). Esse é, na verdade, o grande charme do livro – construir uma história emocionante através de aspectos comuns do dia-a-dia de uma família da primeira metade do século XX. O crescimento das crianças, as travessuras entre irmãos, dívidas a pagar, a chegada à adolescência e à vida adulta, a perda, tudo isso está bem retratado aqui.

Os personagens são bem trabalhados, inclusive aqueles secundários – Durvalina, Tia Emília, Clotilde, etc. Destaco especialmente uma parte que acho fantástica: a descrição que Lola faz a respeito da personalidade de D. Genu, que é, para dizer o mínimo, estranha. O livro nos leva a torcer pela família de Lola, e o leitor fica angustiado nos momentos mais tensos e tristes da história. Parece que, junto com os personagens, comemoramos as pequenas vitórias e lamentamos as perdas que se colocam no caminho da família.

A normalidade e o caráter ordinário da história, porém, nem sempre funcionam adequadamente. A narrativa da personagem Lola às vezes se arrasta profundamente, e não acontece nada de empolgante durante longas páginas. Da mesma forma, certas divagações que ela faz a respeito da vida e de sua realidade parecem não se encaixar bem no livro, e nem mesmo condizem com sua personalidade. De qualquer modo, são problemas pequenos, se comparados à beleza da obra.

Éramos Seis é um clássico da literatura brasileira que tem como grande mérito criar personagens marcantes que vivem em um universo familiar a todos nós, e que nos passam muito bem um retrato da sociedade paulista naquela época de grandes mudanças culturais (décadas de 20 a 40 do século XX). Embora a narrativa se arraste em alguns momentos e perca o seu foco noutros, a história é conduzida de forma competente e o resultado é uma obra cativante e amavelmente relevante.


Nota: ✩✩✩✩

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