Teste Teste Teste Teste

15 de julho de 2016

Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932)

Quando todos se tornam iguais, quando a individualidade morre e já não há mais espaço para o livre-pensamento e o questionamento, o sistema vence o indivíduo. Quando a liberdade é sacrificada e a plena felicidade é desejada – até mesmo obrigatória! – mesmo que isso represente o fim do pensamento autônomo dos humanos, o sistema vence o indivíduo. E é sobre a destruição da individualidade e a padronização da sociedade que trata o brilhante Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley, 1932).

No ano de 632 d.F. (depois de Ford), a sociedade humana é composta por “castas”, criadas por meio da manipulação genética realizada em laboratório. Através de verdadeiras linhas de montagem, os seres humanos são cultivados em tubos de ensaio, e são condicionados, durante anos, a acreditar sempre nas mesmas verdades. Nesse novo Mundo, liberdade e felicidade não podem conviver adequadamente.


Já falei outras vezes sobre distopias (possivelmente, esse é meu estilo literário favorito). Seja em A Revolução dos Bichos ou em 1984 (ambas as obras de George Orwell, 1945 e 1949, respectivamente), temos uma crítica velada ao sistema da época do autor – que costuma persistir ainda por várias décadas. Em Admirável Mundo Novo, segue-se o mesmo padrão. Aqui, não se pretende prever a tecnologia do futuro, nem “profetizar” quais serão as grandes descobertas científicas da humanidade. O que o autor pretende é alertar a respeito do avanço de sistemas políticos que, pregando o bem-estar social e a solução de grandes problemas da humanidade (o que é retratado como a plena felicidade no livro), acabam por escravizar lentamente os indivíduos.

A narrativa de Huxley (frenética, em alguns pontos, intercalando cenas envolvendo vários personagens) nos coloca a par da real situação do mundo 600 anos no futuro: não há mais identidade, não há mais individualidade. Os seres humanos são criados em laboratório, divididos em “castas”, e de lá já saem com o cérebro condicionado para uma vida sem questionamentos, reféns de um futuro pré-determinado: irão cumprir, até o fim de suas vidas, o papel para o qual foram destinados, ainda quando estavam dentro dos chamados “bocais”.

E por que os seres humanos não se revoltam contra esse rígido sistema? Além dos anos de condicionamento a que são submetidos – na infância e na adolescência – existe ainda o soma, uma droga ingerida através de pílulas, que “anestesia” o cérebro, tornando os indivíduos dóceis e desestimulando-os a se revoltarem. (Aliás, ao terminar de ler o livro, tive a impressão de que os irmãos Wachowski beberam em sua fonte para compor o universo de Matrix – seres humanos cultivados ainda como embriões, tendo seu cérebro “anestesiado” por um processo que os mergulha numa confortável fantasia.)

Enquanto em 1984 a torpeza do sistema nós é apresentada aos poucos, na medida em que a história avança, em Admirável Mundo Novo o cruel sistema que rege o mundo é descortinado diante de nossos olhos já nos primeiros capítulos. O enigmático Mustafá Mond, um dos dez administradores mundiais, nos explica, em pessoa, parte do processo de criação de um ser humano, bem como a filosofia ali envolvida. O livro ainda nos brinda, em determinado momento, com a apresentação de outras camadas desse imponente membro da sociedade do mundo novo.

Toda mudança é uma ameaça à estabilidade. Vários personagens nos são apresentados, com seus dramas, crises e – no caso de alguns – questionamentos. Bernard, Helmholtz, Lenina, John (o Selvagem), Linda... cada um possui o seu momento, o seu desenvolvimento, o seu peso para a trama. No fim, o sistema é mais forte, e acaba “engolindo” cada um daqueles que se apresentam como um ponto fora da curva.

Admirável Mundo Novo é um livro brilhante, inquietante, cruel, que nos leva a pensar no perigo que reside no ato de cercear a liberdade dos indivíduos. Embora eu ainda considere 1984 a melhor distopia de todos os tempos, Admirável Mundo Novo é um clássico extremamente relevante e que deve ser lido por todos. O livro é (e sempre será) um convite a pensarmos por nós mesmos, a romper com os condicionamentos e a nunca aceitarmos ser classificados em alguma “casta”.


Nota: ✩✩✩✩✩

2 comentários:

  1. Gabriel, eu adorei a sua crítica e o blog em geral, você escreve muito bem e soube como relevar os pontos importantes da obra! Ainda não terminei de ler o livro, mas estou achando ótimo.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado! Tenho certeza de que vai achar o restante do livro ótimo também.

    ResponderExcluir