Recebi
esse livro de presente de uma ex-aluna de violão (dificilmente algum presente
supera um livro com uma dedicatória na primeira folha) e, até então, não tinha
ouvido falar nele nem em seu autor (um brasileiro, que aparentemente escreveu
apenas essa obra). Confesso que a arte da capa me chamou muito a atenção
(aquela velha questão já vista no livro O Orfanato da Srta. Peregrine paraCrianças Peculiares...), então logo mergulhei fundo na leitura de Gêtsemani,
a verdade oculta (James Andrade, 2008).
Logo de
início gostei do estilo da escrita: despojado, simples, objetivo, o que fazia
com que a história fluísse bem. A rápida forma como as reviravoltas se
apresentam, porém, exige logo do leitor uma capacidade de adaptação e causa –
assumo – certo desconforto, por modificar demais o ritmo da história.
Antônio
acorda em uma cama de hospital, sem se lembrar de nada do que acontecera até
então. Destinado a descobrir seu passado e a desvendar os sonhos que o perseguem,
ele inicia uma jornada (inicialmente acompanhado por Ângela) em busca de
respostas. O que ele descobrirá, porém, é muito mais incrível do que ele
poderia imaginar.
Inicialmente,
a história aparenta ser simples. Porém, a dimensão da obra logo muda
drasticamente, quando se percebe, com surpresa, a facilidade que o autor tem em
descartar personagens carismáticos - na verdade, de uma forma que eu julguei
incômoda e desproporcional. (Até arrisco a dizer que preferia a morte de certos
personagens – chatos – em troca do retorno da Ângela, por exemplo). Ao fim,
você tem dificuldades em vincular a escala inicial da obra com o desfecho
apoteótico.
Viagens a
várias regiões do mundo, entidades místicas, personagens bíblicos sob uma nova
leitura – tudo isso está presente na obra. Essa releitura de personagens já
conhecidos me agradou; é uma grata surpresa ver a adaptação de Malco, Lázaro e
outros no século XXI. Os personagens, em geral, são bem desenvolvidos, embora
alguns, que possuem bastante relevância na história, não tenham tanto carisma
assim. O vilão (??) da história é um caso a parte: ele é irritante, mas me agradou,
e eu gostei de como as suas várias camadas são apresentadas ao leitor. Aliás:
quem é mesmo o vilão?
Gêtsemani,
a verdade oculta é um
livro interessante e de fácil apreciação, que faz uma boa releitura de
personagens familiares e traz boas ideias. Entretanto, a execução dessas ideias
nem sempre é eficiente e a obra acaba perdendo a escala inicial e se tornando
estranhamente grande e pretensiosa ao final. Todavia, é uma boa leitura
nacional, especialmente em se tratando do romance de estreia do autor.
Nota: ✩✩✩
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